Publicado originalmente em 3/2/2022, no site da UFMA
Na tarde desta quinta-feira, 3, o médico, epidemiologista e professor da UFMA Antônio Augusto Moura Silva ministrou o webinário “Covid-19: Excesso de mortalidade no Brasil em 2020”, em que mostrou dados de um estudo feito pelo Grupo de Modelagem da Covid-19 na UFMA – no qual é coordenador – sobre o excesso de mortes e a subnumeração de óbitos por covid-19 no ano de 2020, em que várias mortes não foram atribuídas à doença nem aparecem nos dados oficiais da enfermidade. Segundo o docente, o método que se tornou a melhor medida de análise do impacto da pandemia, no contexto em que o Brasil é o segundo país com maior número de mortes no mundo e tem consideráveis taxas de subnotificação.
O evento virtual foi ministrado por meio do portal Saúde para Você e transmitido pelo Canal Institucional da UFMA no Youtube. Antônio Augusto, inicialmente, explicou que o estudo do Grupo de Modelagem reuniu também pesquisadores do Departamento de Saúde Pública, Departamento de Ciência da Computação e do Departamento de Física, além de estudantes, todos da Universidade Federal do Maranhão.
A apresentação do médico apontou que, em 2020, houve menos mortes por outras causas que não covid-19, possivelmente por conta do lockdown, como é caso da diminuição das mortes por causas violentas, por acidente de trânsito e por influenza e outras doenças respiratórias, como a gripe, além de menos mortes por doenças cardiovasculares, cujos casos relacionou ao fato de a covid-19 afetar mais fortemente justamente as pessoas com comorbidades.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o chamado “excesso de mortalidade” é um cenário em que o número de mortes está acima do esperado, em que, na pandemia, os falecimentos aparecem em números maiores que os registrados oficialmente. O excesso de óbitos no Brasil foi de 13,7% em 2020, mas, no Maranhão, foi de 20%. Os números mostram que, no estado, o excesso de mortes foi de 7.747, enquanto que os óbitos registrados por covid-19 oficialmente foram de 5.124, cuja inferência faz o epidemiologista pensar e atribuir o fato ao quantitativo insuficiente de testagens e às subnotificações de casos da doença.
A análise mostrou que os grupos com maior quantitativo de casos de excesso de mortes registrado foi de pretos, pardos e indígenas do sexo masculino, entre 20 e 39 anos, das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, mostrando os traços da desigualdade social perante os casos de coronavírus no país, acentuada pela baixa testagem.
“Se a gente quiser saber a real força da morte no Maranhão em 2020, temos que trabalhar com a mortalidade que excedeu o esperado e não trabalhar com o que já identificou como covid. O Maranhão foi o estado em que houve a maior subnumeração de óbito no Brasil, o que se coloca em dúvida a informação de que a fatalidade aqui foi menor que em outras localidades do país. Coloca-se em dúvida essa afirmativa”, declarou Augusto.
Durante a apresentação, foi ressaltado que a variante Ômicron é duas a três vezes mais transmissível que as anteriores, pois essa mutação do vírus consegue parcialmente “driblar” a cobertura das vacinas. Contudo o epidemiologista destacou que a vacinação foi e continua sendo fundamental para a proteção dos casos mais graves: o risco de morte pela Ômicron é doze vezes maior em não vacinados, com 90% de chance de evitar hospitalizações entre os vacinados.
“O pior da onda já passou”
“O modelo que temos utilizado é o da Universidade de Washington, que infere que, na capital maranhense, o pico da Ômicron já passou, o que está batendo com dados da Prefeitura de São Luís. Na cidade, são testadas 1.500 pessoas por dia, e um estudo da Prefeitura mostrou que a maior taxa de positividade, em torno de 34%, foi vista em 24 de janeiro, e aí agora, no dia 1º de fevereiro, temos positividade de 14%. Já podemos dizer com probabilidade de acerto que o pior da onda já passou. A gente ainda vai ter aumento de hospitalização, mas a magnitude Ômicron foi um terço ou um quarto das anteriores”, revelou.
O docente também enfatizou que um fator positivo para a redução do número de casos mais graves atualmente é o fato de a Ômicron ter mais dificuldade de penetrar nos pulmões humanos, isso somado à vacinação e à quantidade de brasileiros que já tiveram a infecção, o que evita a saturação dos serviços de saúde. Há possibilidade, inclusive, de voltar a baixa transmissividade observada em novembro de 2021.
Vacinação para crianças
Sobre a vacinação de crianças, o epidemiologista fez forte crítica às fake news que tentam convencer adultos a impedir a imunização, com uso de desinformação. “A gente precisa vacinar as crianças. Não faz nenhum sentido condenar as crianças à morte negando-lhes o direito à vacina. Os pais não têm o direito de condenar suas crianças à morte”, pontuou.
Volta às aulas? Ainda não
Ao responder sobre uma pergunta feita no chat sobre a possibilidade de volta às aulas na UFMA, o docente foi cauteloso: “A gente não tem condição de afirmar a volta das aulas porque esta apresentação é com base em modelos e em dados da Prefeitura. Temos que esperar os dias se passarem para vermos a onda reduzindo, e, quando a gente tiver a transmissão baixa de novo, será hora de tornarmos a discutir o assunto da volta das aulas presenciais”.
O reitor Natalino Salgado agradeceu à explanação do epidemiologista e fez ponderações sobre o atual momento. “Meus agradecimentos ao epidemiologista e professor Antônio Augusto por sempre estar disposto a presar todas as informações elucidativas à nossa comunidade acadêmica e à nossa população a respeito da pandemia. A melhor forma de fazer prevenção é conhecer a doença. Além dos dados apresentados, o professor fez vários comentários sobre a variante da Ômicron, que, mesmo infectando mais pessoas, tem taxa de comorbidade e mortalidade menor”, ponderou.
Saiba mais
Antônio Augusto também é doutor em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), pós-doutor em Epidemiologia pela Universidade de Oxford, pesquisador 1-A do CNPQ e editor chefe da Revista Ciência & Saúde Coletiva. Além de coordenador do Grupo de Modelagem da Covid-19 na UFMA, é membro do Comitê Operativo de Emergência (COE) da Universidade Federal do Maranhão.
Confira a transmissão: